Eu desejo

Posted in Sem-categoria on dezembro 23, 2015 by corpocaloso

2016

Poética = trabalho

Posted in arte visual, coisas da vida on julho 11, 2014 by corpocaloso
"quase mimese" forquilha de estilingue e desenho de bic sobre caderno.

“quase mimese”
forquilha de estilingue e desenho de bic sobre caderno.

Pra começar o dia, a semana, o resto do mês, a vida inteira: pensando no significado da palavra “trabalho”.
Trabalho vem de tripalium, intrumento de tortura.
Pensei em labor (q gosto sonoramente, principalmente junto com oratorium, laboratorium, e por causa de uma sentença alquímica q é como uma metodologia de projeto pra mim “Lere, lere, lere, relere, ora, labora et invenies”) mas tb tem conotação parecida: fadiga, dor, etc.
Mas, pegando a raiz do pensamento ocidental (não terei a pachorra aqui de analisar rasamente esse conceito nos fazeres indígenas brasileiros ou em filosofias de etnias africanas ou no pensamento zenbudista, me atenho ao [bem] pouco q sei dos gregos & latinos), temos a póiesis, a poética, o conjunto de regras e métodos e ações para se fazer algo. Segundo os gregos, era o significado inicial de criação, ação, confecção, fabricação e, posteriormente, arte da poesia e faculdade poética. Tome-se como poética a maneira com que você faz algo que por acaso, você faz para sobreviver. Você faz poesia, se pensa sobre, se faz guiado por uma poética, um modo de fazer (ou alguns), uma relação simbiótica e promíscua entre ato & pensamento, entre fazer & refletir, entre crítica & aceitação, entre cérebro, mão & coração, entre racional & emocional, entre lado direito & esquerdo, entre corpo & espírito, você faz poesia. Mesmo que não escreva. Mesmo que não desenhe (tod@s deveriam). Mesmo que não dance (o que é um pecado mortal). Mesmo que não faça arte (e quem faz??). Se você conscientemente, faz algo com prazer e vive disso, você faz poesia. Póiesis e não tripalium ou labor.

a morte e a morte de Diadorim

Posted in coisas da vida, literatura with tags , on maio 21, 2010 by corpocaloso

não sei de onde. só sei que foi.

eu nunca li o “Grande Sertão: Veredas” todo. só um ou outro trecho.
certo dia q estava indo a casa de minha mãe, era no dia das mães. levei o livro, porque tinha pensado na cena em que Riobaldo descobre que Diadorim é mulher.
é a unica cena de q me lembro naquela série da TVGlobo (que nao acompanhei) com o Tony Ramos e a Bruna Lombardi: o corpo nú e morto, a luz lá de fora, as borboletas, etc.
e caí em mim que não tinha lido as palavras do Rosa dizendo isso.
então levei o livro comigo e li no metrô. catei a parte da morte e fui lendo (vou ter a pachorra de transcrever):

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Em dizendo que a Mulher ia lavar o corpo dele. Ela rezava rezas da Bahia. Mandou todo o mundo sair. Eu fiquei. e a Mulher abanou brandamente a cabeça, consoante deu um suspiro simples. Ela me mal-entendia. Não me mostrou de propósito o corpo. E disse…
Diadorim – nú de tudo. E ela disse:
– “a Deus dada. Pobrezinha…”
E disse. Eu conheci! Como em todo o tempo antes eu não contei ao senhor – e mercê peço: – mas para o senhor divulgar comigo, a par, justo o travo de tanto segredo, sabendo no átimo em que eu também só soube… Que Diadorim era o corpo de uma mulher, moça perfeita… Estarreci. A dôr não pode mais do que a surpresa. A côice d’arma, de coronha…
Ela era. Tal que assim se desncantava, num encanto tão terrível; e levantei mão para me benzer – mas com ela tapei foi um soluçar, e enxuguei as lágrimas maiores. Uivei. Diadorim! Diadorim era uma mulher. Diadorim era mulher como o sol não acende a água do rio Urucúia, como eu solucei meu desespero.
O senhor não repare. Demore, que eu conto. A vida da gente nunca tem termo real.
Eu estendi as mãos para trás, incendiável: abaixei meus olhos. E a Mulher estendeu a toalha, recobrindo as partes. Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca. adivinhava os cabelos. Cabelos que cortou com tesoura de prata… Cabelos que, no só ser, haviam de dar para baixo da cintura… E eu não sabia por que nome chamar; eu exclamei me doendo:
-“Meu amor!…”
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nesse momento eu fechei o livro e estava chorando. no metrô.
poucas vezes chorei sozinho lendo algo. menos ainda na rua.
cinema ou teatro ou música é mais fácil. de chorar.

que alguém me desminta se eu estiver enganado, mas acho um dos momentos mais tristes da literatura.

fico pensando em como deve ter sido ler a primeira edição, acompanhar toda a saga quase bíblica e descobrir isso no final. depois descobri que um grande amigo leu quando adolescente, nos anos 70. ele não sabia do final. e foi mágico. até hoje ele estuda lê e relê este Grande Sertão…

que grande filho-da-puta era esse Rosa…

Por que eu amo post rock

Posted in escritos, musica on maio 3, 2010 by corpocaloso

eu amo músicas que não começam nunca.
e que acabam de repente.
adoro músicas que não chegam a lugar nenhum.
e vão a muitos.
eu amo silêncios depois de um turbilhão de pratos, guitarras e baixo.
eu adoro humming que fica depois de uma barulheira.
adoro ouvir notinhas aqui e ali sabendo que a musica vai crescendo e estourando e se embolando e aquelas notinhas ainda estarão aqui e ali.
eu amo quando os pedais são também instrumentos.
amo células harmônicas que se repetem infinitamente e amo mais ainda quando elas fogem e viram outra coisa, outra música sem sair da música.
amo elementos estranhos que entram na melodia, uma voz, uma palavra, o barulho dos dedos escorregando nas cordas, água caindo, vidro, um sopro.
eu adoro músicas que não tem letra, mas tem discurso e poesia.
que não narram mas ecoam histórias
eu amo musica textural. eu amo músicas que sugerem, que não se presumem canções, mas obras abertas.
eu adoro quando a bateria é quase melódica, quando quebra, quando dança e se mistura e sobe e desce e silencia.
eu amo mantras e mais ainda quando eles se quebram e se reconstroem e somem e voltam novamente e ficam ali sem estar ali exatamente. sugestão melódica.
eu adoro improviso controlado. paradoxos. barulhos, silêncios, melodias delicadamente violentas e microfonias doces.
eu amo, mais que tudo, não saber pra onde a música vai, que som vai entrar, quando vai acabar. se vai acabar…

(uma proposição)

Posted in arte on outubro 12, 2008 by corpocaloso
caderno sobre caderno

caderno sobre caderno

Aos 18, em vez do Serviço Militar Obrigatório, todos os jovens (homens e mulheres) deveriam prestar o “Serviço Poético Voluntário”.
Um ano, pelo menos, de suas vidas mergulhados no pensar e fazer poético (em texto, em imagens, em movimentos, em sons, em cheiros, em gostos).
Alguns seguiriam carreira, outros levariam como mais uma obrigação a cumprir. Mas teriam tb seu Certificado de Reservista Poético. (CRP).
O Serviço seria voluntário, mas desde cedo, as crianças seriam estimuladas a pensar e a produzir (seja com matemática ou com pincéis, seja com o corpo ou com um instrumento musical, seja com a escrita ou seja com a geografia…) com os seus conhecimentos adquiridos e trocados – em sala de aula e no quintal da escola, na rua e em suas casas – para q possam se sentir à vontade no universo poético.
Ao se aproximar o final da vida, os anciãos seriam estimulados a rememorar e registrar seus percursos e a multiplicar seus conhecimentos e habilidades e pensamentos aos mais jovens.

eu não tenho muitos preconceitos

Posted in coisas da vida on setembro 9, 2008 by corpocaloso
sério, não tenho mesmo.
mas um eu tenho.

não gosto de gente burra.

não o ignorante, que não sabe porque não sabe ou não teve oportunidade ou seilá.

não suporto o “estudar pra quê?” ou o “pra que ler tanto?”

me dá urticária, dá vontade de pular no pescoço.

principalmente de quem tem orgulho de ser burro, que gosta de “não saber”.

acabo sendo grosso. ou pior, irônico.
é péssimo, feio, mas não consigo me controlar.
prefiro ficar longe.

é uma falha de caráter minha.

à primeira vista (escrito 14)

Posted in escritos on setembro 9, 2008 by corpocaloso

(uma idéia por dia. um escrito por dia. uma tarefa diária. um método imposto. um exercício. cada número, um dia de dezembro de 2005. sem revisão ou releitura. esse foi o dia 20. ainda não segui o projeto que é produzir imagens pra cada texto.)

quando a vi, sabia que seria pra sempre, que teríamos uma casa verde claro, três filhos, um carro comprado em 36 vezes, fogão, geladeira, tv a cabo, um jardim no quintal. mas ela atravessou a rua. nunca mais a vi.

eu não sou poeta (escrito 21)

Posted in escritos on setembro 9, 2008 by corpocaloso

(uma idéia por dia. um escrito por dia. uma tarefa diária. um método imposto. um exercício. cada número, um dia de dezembro de 2005. sem revisão ou releitura. esse foi o dia 20. ainda não segui o projeto que é produzir imagens pra cada texto.)

olhou para as coisas: objetos, rostos, paredes, revistas. não achou nem uma palavra, nem uma imagem, nenhuma metáfora. nada. não conseguiu dormir. tinha prazos a cumprir. levantou num salto, andou de um extremo a outro do apartamento. abriu janelas. fechou janelas. viu televisão. ouviu música. correu até a cozinha. olhou para o cutelo. num gesto desesperado cortou a falange do indicador esquerdo. agora tinha um tema.

do it yourself

Posted in coisas da vida on agosto 29, 2008 by corpocaloso

ou sim, fui eu que fiz.

proposição número 1

Posted in coisas da vida, escritos on agosto 7, 2008 by corpocaloso

“disse a raposa ao principezinho: tu és eternamente responsável por aquilo que cativas”

seria uma declaração de amor ou uma maldição?, perguntou o cético.